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Um tempo atrás, eu tentei criar uma função recursiva e anônima em Elixir porque eu estava dentro do iex e estava com preguiça de criar um módulo dentro do repl. Minha primeira tentativa foi algo assim:
# Fatorial ingênuo, anônimo e recursivo
fact = fn
0 -> 1
n -> n * fact.(n-1)
end
OBS: Sim, é possível definir múltiplas cláusulas para funções anônimas!
É claro que isso não funcionou, porque fact/1
ainda não está definida no momento em que é chamada dentro do corpo da função.
Eu realmente não lembro por que eu precisava de uma função anônima e recursiva, mas no começo dessa semana eu percebi o que que eu tinha que fazer para que funcionasse. Tudo o que temos que fazer é assegurar-nos que a função existe no momento em que é chamada, certo?
Então e se a função anônima recebesse outra função como argumento, e essa função recebida fosse o que faz a chamada recursiva?
Agora o Elixir não poderia reclamar da função não estar definida, porque ela foi fornecida via um argumento, que poderia ser qualquer coisa:
fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1)
end
Bom, mas o que é essa função recur
?
Ela poderia muito bem ser a própria fact
! Somente temos que passá-la quanto a estivermos chamando:
fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1)
end
# Passe fact para si mesma, para que ela seja "recur" dentro do corpo da função
fact.(4, fact)
É claro que isso vai lançar uma exceção, pois agora fact tem uma aridade de 2, e recur está sendo chamada com apenas um argumento. Lembre-se que recur é de "facto" fact! Sim, tentei fazer um trocadilho.
Para resolver isso, tudo que temos que fazer é chamar recur passando recur para si mesmo, assim:
fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1, recur)
end
fact.(4, fact)
#=> 24
Também funciona com recursão de cauda, é claro. Tudo que teríamos que fazer é gerenciar os parâmetros e retornos corretamente.
Legal, posso usar isso num Enum.map ou alguma outra função de ordem superior?
Bom, somente se tomarmos cuidado.
Se escrevermos isso:
fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1, recur)
end
Enum.map([1,2,3,4], fact)
Então Enum.map/2 tentará invocar fact
com um argumento apenas, lançando uma exceção.
Uma maneira de resolver isso seria encapsulando-a dentro de uma outra função:
fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1, recur)
end
Enum.map([1,2,3,4], &(fact.(&1, fact)))
#=> [1, 2, 6, 24]
Outra maneira seria definir fact com uma interface mais legal.
A função fact poderia simplesmente receber um argumento e daí definir a função anônima e recursiva dentro de si mesma, e daí chamar a função anônima recém definida passando a mesma como argumento.
Seria algo assim:
fact = fn n ->
do_fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1, recur)
end
do_fact.(n, do_fact)
end
Enum.map([1,2,3,4], fact)
#=> [1, 2, 6, 24]
Agora nós temos uma função recursiva e anônima que funciona como o esperado. Se eu quiser saber o fatorial de um número, apenas tenho que passar o número para a função, que é exatamente o que Enum.map tentará fazer.
Até definir na mesma linha essa função anônima funcionará:
Enum.map([1,2,3,4], fn n ->
do_fact = fn
0, _ -> 1
n, recur -> n * recur.(n-1, recur)
end
do_fact.(n, do_fact)
end)
#=> [1, 2, 6, 24]
E recursiva de cauda:
Enum.map([1,2,3,4], fn n ->
do_fact = fn
0, acc, _ -> 1
n, acc, recur -> recur.(n-1, n*acc, recur)
end
# Lembre-se de definir corretamente o valor inicial do acumulador. Aqui ele é 1
do_fact.(n, 1, do_fact)
end)
#=> [1, 2, 6, 24]
Ter uma interface mais legal não é bom somente para usá-la como argumentos de uma função de order superior, também é mais legal para nós invocarmos essa função, é claro:
fact = fn n ->
do_fact = fn
0, acc, _ -> 1
n, acc, recur -> recur.(n-1, n*acc, recur)
end
do_fact.(n, 1, do_fact)
end
# Não há necessidade de passar nem o acumulador nem a própria função
fact.(4)
#=> 24
Agora se eu quiser saber o fatorial de 4, tenho que apenas chamar a função fact/1
com 4 como argumento, sem ter essas coisas estranhas de passar a própria função por aí manualmente na chamada.
Legal, mas isso é útil?
Para ser sincero, eu não sei.
Para começo de conversa, não é ilegal definir um módulo dentro do repl, então o cenário de "Estou com preguiça dentro do iex" não é tão importante assim. Quero dizer, eu tive que escrever tanta coisa a mais só para criar essa função recursiva e anônima que talvez simplesmente escrever defmodule M do ... end
seja mais fácil e mais rápido.
Outra situação em que poderíamos usar isso seria em arquivos elixir normais onde temos algums Enums ou outras funções de ordem superior trabalhando, mas daí a gente provavelmente já vai estar dentro de um módulo, onde poderíamos definir uma função privada "com nome" (não anônima) para fazer esse trabalho e já dando um nome significativo a ela, aproveitando que vamos estar ali. Isso vai culminar num código melhor e mais legível do que a "solução" com as funções recursivas e anônimas malucas.
Mas ei, mesmo que isso não seja assim tão útil, pelo menos é sempre legal pensar sobre funções e recursão, certo?
E também foi bem divertido escrever esse post! 😁
É isso por hoje. Obrigado por ler e tenha um bom dia! (:
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DEV Community | Sciencx (2022-02-24T17:53:59+00:00) Funções recursivas e anônimas em Elixir. Retrieved from https://www.scien.cx/2022/02/24/funcoes-recursivas-e-anonimas-em-elixir/
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